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terça-feira, 18 de novembro de 2014

COMO O CÉREBRO ORGANIZA O COMPORTAMENTO SEXUAL - Silvia Helena Cardoso, PhD



Os neurocientistas têm devotado grandes esforços para responder as questões básicas a respeito dos atos de comer, beber, respirar e se mover; também têm se esforçado para entender como nós percebemos, pensamos, dormimos e lembramos.

Mas e o sexo? Tabus em muitas culturas, censura moral e imaturidade das ciências fisiológicas e psicológicas neste campo têm impedido uma pesquisa a longo prazo referente ao comportamento sexual humano.

Foi somente com os estudos pioneiros dos sexologistas Havellock Ellis e Alfred Kinsey, na primeira metade do século, e posteriormente dos fisiologistas Masters e Virginia Johnshon, que um estudo objetivo da resposta sexual humana começou a se desenvolver.

Hoje, encontramos muitos estudos a respeito dos aspectos embriológicos, genéticos e biológicos do aparato reprodutor, como espermatozoides e óvulos, fertilização, desenvolvimento e nascimento, assim como sobre a anatomia dos órgãos sexuais em ambos os sexos. Também encontramos muitas informações a respeito de aspectos antropológicos, sociais e culturais do comportamento sexual.

Porém, a literatura apresenta poucos estudos sobre a fisiologia da sexualidade humana e de como o cérebro organiza o comportamento sexual. A sexualidade humana está fortemente relacionada ao comportamento reprodutivo, não somente em termos da propagação e sobrevivência das espécies, mas também aos seus mecanismos neurais e fisiológicos. Contudo, a sexualidade não resulta sempre em reprodução, uma vez que é motivada pelo comportamento. O sucesso de completar o ato sexual depende da excitação local e de estímulo físico. Outros comportamentos também são motivados, como o comportamento de alimentação. Entretanto, a diferença entre a motivação sexual e estes instintos primários é enfatizado quando a saciedade é considerada.

Quando um animal faminto ou sedento ingere uma quantidade suficiente de água ou comida, a restauração da energia ou do equilíbrio de fluidos do organismo retorna a um equilíbrio homeostático. A atividade sexual consome as reservas de energia do organismo; o instinto sexual é saciado somente quando a fadiga e a exaustão o superam, mas ele retorna assim que o organismo recupera as reservas energéticas.

Diferenças adicionais e importantes surgem por que a motivação sexual é obtida a partir da sugestão ambiental, enquanto a fome e a sede refletem mudanças internas que estimulam interoceptores.

O comportamento sexual, excitação e motivação ocorrem somente em situações ambientais especiais que providenciem tipos particulares de estimulação sensorial. Alguma quantidade de estimulação vai provocar a motivação sexual, a menos que o organismo esteja fisicamente preparado para a cópula.

A prontidão fisiológica para responder seletivamente a estímulos sexuais é providenciada por mudanças hormonais que afetam tanto mecanismos neurais e não-neurais por todo o corpo. A cópula, como a alimentação, acontece devido a uma combinação de controle nervoso e hormonal.


Muito deste controle é mediado por partes do sistema nervoso dentro do "cérebro visceral", que filogeneticamente é a parte mais antiga do cérebro humano. Ele é composto pelo hipotálamo, hipófise, sistema límbico, e regiões do mesencéfalo (cérebro central).

Apesar do fato do comportamento sexual humano ser controlado e dirigido por uma das partes mais primitivas do cérebro, ao mesmo tempo ele é fortemente influenciado e modulado pela experiência adquirida, assim como pelo meio social, étnico e cultural, fazendo dele uma mistura única das esferas fisiológica e psicológica. Ainda mais, o que é considerado "normal" e "anormal" no comportamento sexual humano é altamente variável entre culturas e ao longo do tempo.

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